Phonk: entre a origem e o algoritmo

Nos últimos anos, o nome “phonk” ganhou uma projeção inesperada. A palavra explodiu em playlists, viralizou em plataformas como TikTok e YouTube, e virou trilha sonora para vídeos de moto, carros rebaixados, e edits com filtro VHS e glitch. Mas enquanto o estilo se popularizava na superfície, sua história era empurrada para o subterrâneo de onde veio.

O phonk não nasceu em 2020, nem no Brasil. Ele é filho direto do rap sulista dos Estados Unidos dos anos 90, com influências claras do gangsta rap, do horrorcore e da cultura das mixtapes. Seu som é marcado por batidas lo-fi, vocais distorcidos, samples arranhados e uma atmosfera densa, introspectiva, às vezes sombria. Nomes como DJ Screw, DJ Zirk, Tommy Wright III e Three 6 Mafia não apenas definiram uma estética, mas criaram uma linguagem. Uma resistência sonora. Um modo de existir fora do mainstream.

O termo “phonk” começou a ser reutilizado nos anos 2010 por produtores da cena underground como Ryan Celsius, DJ Smokey, Soudiere e Mythic, que ajudaram a dar nova vida a essa sonoridade através da internet. Era um resgate e ao mesmo tempo uma atualização. O phonk ganhava o mundo, mas ainda como um movimento de nicho.

Com o tempo, o algoritmo viu potencial. Playlists com nomes genéricos como “drift phonk”, “cowbell phonk” e, mais recentemente, “Brazilian Phonk” passaram a categorizar qualquer beat com distorção, cowbell acelerado e visual dark como parte de um mesmo movimento. O problema não é a evolução natural do gênero — que é sempre bem-vinda — mas a forma como o rótulo se sobrepõe à história.

No Brasil, muitos produtores viram no “Brazilian Phonk” uma chance de visibilidade. E de fato, surgiram boas produções, com pegada original e identidade. Mas, junto com elas, veio também uma onda de beats genéricos, montados a partir de templates e direcionados para viralizar. O nome virou tendência. E a tendência virou silenciamento.

Quando tudo vira phonk, o phonk real desaparece. A linguagem que surgiu de um contexto social específico passa a ser tratada como um filtro estético. O problema não é a apropriação em si, mas a superficialidade com que ela é feita. A gentrificação sonora acontece quando o mercado transforma cultura em commodity.

Hoje, o “Brazilian Phonk” está em todos os lugares — menos na conversa sobre a história do gênero. Essa distorção importa porque apaga vozes. Apaga intenção. Apaga memória. E o que era pra ser homenagem vira invisibilidade.

Falar de phonk no Brasil exige responsabilidade. E o primeiro passo é reconhecer: nem tudo que brilha no algoritmo tem raiz. O verdadeiro phonk ainda está lá fora, no subterrâneo, onde sempre esteve. Mas agora, mais do que nunca, precisa ser lembrado pelo que ele é: som, contexto e vivência. Não só estilo.

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